Ferrovias resistem à crise, têm mais carga e vão investir R$ 7 bi em 2015

Lidando com um aumento do volume de cargas transportadas, que resiste ao tombo da atividade econômica, as concessionárias de ferrovias devem fazer um investimento recorde de R$ 7 bilhões neste ano. Obras como a duplicação da Estrada de Ferro Carajás, a construção da Transnordestina e a implantação de terminais intermodais voltados ao agronegócio impulsionam os desembolsos. As projeções foram feitas pela Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) e não englobam valores que ainda podem ser destravados com a renovação antecipada das concessões – objeto de negociações com o governo.

Em junho, ao apresentar a segunda etapa do programa de concessões em infraestrutura, o governo fez uma estimativa de investimentos adicionais de R$ 16 bilhões em troca da extensão de contratos que expiram na próxima década. "Temos a expectativa de que essas tratativas sejam positivas", diz o diretor institucional da ANTF, Fernando Paes.
 
Ele também faz elogios ao novo modelo de expansão da malha ferroviária anunciado pela presidente Dilma Rousseff e avalia que os projetos têm um "grau de amadurecimento maior" desta vez – no plano lançado em 2012, nenhum dos 10 mil quilômetros de trilhos conseguiu sair do papel.
 
Neste ano, a movimentação de cargas transportadas deve aumentar 2,4% e superar o volume pré-crise, alcançado no fim da década passada. O indicador de produção do transporte ferroviário também vai crescer em ritmo semelhante e atingir 315 bilhões de toneladas por quilômetro-útil (TKU), segundo previsão das concessionárias. "O setor tem conquistado ganhos de produtividade e eficiência", afirma Paes.
 
Segundo ele, as empresas têm investido na oferta de serviços novos, como os vagões duplos (double decks) da MRS Logística. Outras concessionárias apostam na redução do tempo de carregamento do minério e de grãos.
 
Um dos fenômenos mais interessantes do segmento, no entanto, tem a ver com o aumento do transporte de cargas em contêineres. O número de TEUs – módulos padronizados de 20 pés – transportados dobrará em apenas três anos, entre 2012 e 2015, passando de 240 mil para 480 mil. "Isso mostra o potencial de diversificação do que pode ser levado pelas ferrovias", ressalta Paes. Fabricantes de carnes congeladas, autopeças e até produtos eletrônicos começaram a usar os trens para escoar sua produção.
 
Para a ANTF, uma das razões que explicam o crescimento da carga é o preço do frete ferroviário, em torno de 15% a 20% abaixo do rodoviário em muitos trechos. Em períodos de economia aquecida, a tendência dos empresários é privilegiar o menor tempo de entrega das mercadorias e optar pelos caminhões. Na crise, quando há mais flexibilidade para cumprir prazos, os trilhos tornam-se atrativos para quem normalmente não usa esse modal.
 
Outro ponto destacado pela associação é a queda no índice de acidentes desde que a malha foi privatizada, em 1997. De 75,5 acidentes por milhão de quilômetros percorridos pelos trens, o número já havia sido reduzido para 14,22 em 2011. Ainda ficava, porém, acima da referência mundial – entre 8 e 13. Desde 2012, o indicador entrou no padrão internacional e continuou em trajetória descendente. No ano passado, chegou a 11,55. "A segurança é uma preocupação permanente das concessionárias, que precisam cumprir metas contratuais, e dá mais previsibilidade aos clientes", afirma o presidente da ANTF.
 
Em 2015, as empresas devem pagar cerca de R$ 700 milhões à União em arrendamento da malha concedida. Paes assinala que os investimentos daqui para frente estão vinculados ao desfecho das conversas para prolongar os contratos de concessão. A malha atual, de 27.782 quilômetros, está dividida em 11 concessões. Em 2013 e 2014, respectivamente, os associados da ANTF haviam investido R$ 5,6 bilhões e R$ 6,8 bilhões. Projetos como a duplicação da malha paulista da ALL, entre Campinas e Santos, estão sendo finalizados.