Falta de sono já causou algum tipo de acidente para 23% dos caminhoneiros

Um dos setores que ainda emprega muita gente no país é o setor de transporte. Os repórteres do Bom Dia Brasil viajaram na cabine de um caminhão para ver o ponto de vista de um motorista, para entender as dificuldades que eles enfrentam nas estradas brasileiras.
 
Problemas de saúde é uma coisa que a maioria dos caminhoneiros nem sabe se tem. Mas difícil mesmo é ficar acordado depois de horas seguidas ao volante. É um perigo para todo mundo que pega a estrada.
Uma pesquisa feita em cinco estados mostra que 23% dos caminhoneiros já sofreram algum tipo de acidente relacionado a essa falta de cuidado básico com a saúde.
 
A comida está no fogo. O almoço de dois caminhoneiros foi macarrão. Faz sete dias que eles improvisam a cozinha em postos de combustível pelo país. Isso, para eles, é uma viagem curta.
 
O vão do baú serve de varanda para seu Valdir descansar. Ele saiu de Buenos Aires, na Argentina, no dia dois deste mês. Faz 20 dias que não dorme em uma cama.
 
Valdir Santinel, caminhoneiro: Faz 20 dias hoje que eu estou só no caminhão.
 
Bom Dia Brasil: Dorme aqui dentro do caminhão mesmo?
 
Valdir Santinel, caminhoneiro: No caminhão, comida na caixa, só no caminhão.
 
O José também faz parte de um grupo grande, de 47% dos motoristas que passam mais de 20 dias fora de casa. Tanto tempo na estrada e a saúde fica para trás.
 
Bom Dia Brasil: Faz muito tempo que você não faz um exame de saúde, tipo glicemia, colesterol?
 
José Tavares Santos Teixeira Jr., caminhoneiro: Eu nunca fiz.
 
Bom Dia Brasil: Você sente falta de fazer falta um exame para saber como anda a saúde?
 
José Tavares Santos Teixeira Jr.: Nunca prejudicou. Então eu não tenho falta.
Muitos caminhoneiros só lembram da saúde quando são parados na estrada. Nesta terça-feira (22), na Via Anhanguera, em Ribeirão Preto, teve vacinação, exames de colesterol, diabetes e testes de visão.
 
Foi um bloqueio, chamado Saúde na Boleia, que revelou problemas com a saúde dos motoristas. Ao todo, 33% estão obesos; 11% são hipertensos; 14% têm colesterol alto e outros 14% têm taxa de glicemia elevada.
“A gente quase não tem muito tempo para ficar acompanhando, tem é aproveitar as oportunidades que tem assim para ver”, diz o caminhoneiro Nivaldo de Souza.
 
Valdemir tem mais de 20 anos de estrada e diz que cuida bem da saúde. “Se você não tiver com a saúde em dia, você não vai ter consciência do que está fazendo. Passa mal ao volante, com certeza”, declara.
 
Não é o caso do Valdemir, que saiu do Recife e estava indo para Curitiba e que só dirige de dia para não correr riscos. Alguns motoristas entrevistados contaram que dirigem até 18 horas por dia. E 10% deles estão na escala mais alta de sonolência, ou seja, podem dormir ao volante a qualquer momento. E quando acontecem acidentes, não é só o caminhoneiro que corre perigo. Muitos outros motoristas que estão na estrada sentem os efeitos.
 
Os acidentes podem provocar prejuízos para quem fica horas parado nos congestionamentos. Eles são frequentes e estão relacionados aos problemas de saúde, alimentação e sonolência.
 
“Ele pode ter um ataque súbito de glicemia e causar um acidente com outros veículos. Se o motorista se trata esses riscos são diminuídos em torno de mais de 50%”, afirma a assessora de operações da Arteris, Elaine Matsuda.
 
Mais de 5,5 mil caminhoneiros foram ouvidos nas estradas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Os dados foram levantados entre setembro do ano passado e agosto deste ano.
 
 
Extraído de: Bom dia Brasil/G1?