Duplicação de rodovias é um dos desafios logísticos

As ações determinadas pelo governo gaúcho para amenizar os gargalos logísticos no Estado envolvem investimentos de R$ 6 bilhões a serem aplicados até 2014. Com linhas de financiamentos do BNDES, Banco Mundial (Bird) e do Tesouro, as obras incluem melhorias em rodovias, aeroportos, hidrovias, portos e uma parte para reforço em programas de energia elétrica.

Segundo o secretário de infraestrutura e logística, Caleb de Oliveira, o governo está empenhado na execução e cumprimento do cronograma do Plano de Obras Rodoviárias, que injetará R$ 2,6 bilhões na pavimentação de acessos municipais, ligações regionais, duplicações de rodovias e na manutenção e recuperação da malha rodoviária do Estado. A malha estadual pavimentada atual é de 7,3 mil quilômetros. Desse total, apenas 142 km são trechos duplicados. Há duplicações de rodovias em estudo que somam 205 km até 2014, com investimento de R$ 498 milhões e que ainda dependem de licitações.

O governo tem pronto estudo para pavimentar 1,4 mil km, um grande passo considerando que a malha não pavimentada no Estado é de 3,7 mil km. Sobre as ligações regionais, a meta é concluir 19 obras até 2014, com investimento de R$ 259 milhões. Neste momento, o governo investe em duas obras: ERS-118, ligação entre Sapucaia e Gravataí, e a ERS-734, entre Cassino e Rio Grande.

As empresas transportadoras de carga, principalmente, torcem pela duplicação de duas rodovias: a BR-448 (Rodovia do Parque) e a BR-392, para facilitar o escoamento de cargas produzidas na Grande Porto Alegre e à chegada de produtos ao Porto do Rio Grande, situado no extremo sul do Estado. Essas obras fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, juntas, estão orçadas em mais de R$ 1,5 bilhão. A BR-448 é uma via alternativa à BR-116 no trecho entre a capital e Sapucaia do Sul (22 km). Quando inaugurada, poderá retirar 37,5 mil veículos por dia da BR-116 – a média é de 120 mil veículos por dia. Nessa região da BR-116 circulam 65% de toda economia gaúcha. Cerca de 70% da BR-448 está concluída.

Não menos importante para amenizar o gargalo é a construção de uma segunda ponte sobre o rio Guaíba, anunciada pela presidente Dilma Rousseff em dezembro de 2011, 53 anos após a atual ser entregue à população. A soma dos congestionamentos na BR-116 e as panes ao içar o vão móvel, que interrompe o tráfego na velha ponte, fazem de Porto Alegre, por vezes, uma cidade sitiada. Orçada em R$ 1 bilhão, a obra terá quase 2 km de extensão. Sua inauguração estava prevista para 2016. Não será mais. Desde julho de 2012, a Engevix faz a concepção da engenharia do projeto, com prazo contratual de um ano e meio para concluir os trabalhos, ou seja, início de 2014. A licitação para escolha da empresa que construirá a ponte seria aberta no primeiro semestre de 2014.

"Com muito otimismo, podemos enxergar o término de grandes obras até 2014. A BR-116 no sentido Sul (duplicação entre Porto Alegre e Pelotas), BR-448 (rodovia do Parque) e a BR-386 (Estrada da Produção)."

Segundo Sérgio Gonçalves Neto, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística do Rio Grande do Sul (SETCERGS), "a demora em iniciar e a lentidão no andamento dessas obras tornam difícil fazer previsões se ao final o problema estará resolvido, pois o crescimento da frota é grande a demanda também".

O custo logístico do Rio Grande do Sul é estimado em 18% sobre o PIB gaúcho, bem maior que a média brasileira, de 16%, segundo Gonçalves. "Se somarmos a lei que limita o número de horas dos caminhoneiros às restrições de trânsito na BR 290 (proibição de transitar nos feriados, etc) não há comparativo que resista. Estamos a cada dia perdendo competitividade", argumenta o dirigente.

Comparando sua infraestrutura logística com a de outros Estados, o Rio Grande do Sul não se sai tão mal, na opinião de Olivier Roger Sylvain Girard, diretor da Macrologística, consultoria responsável por um minucioso estudo sobre a situação das estradas gaúchas. "Algumas melhorias precisam ser feitas. Ferrovias, por exemplo. Hoje é preciso fazer um imenso desvio na direção oeste do Estado para chegar ao porto do Rio Grande. No porto, a prioridade é melhorar o calado, a bacia de evolução e retroárea", sugere Olivier.

Outra prioridade é fazer a carga que chega da Argentina ir até o centro do país "por dentro" do Rio Grande do Sul, sem entrar na BR-116 ou BR-101 como ocorre hoje. Para isso, seria preciso fazer melhorias na BR-158 no trecho entre Santa Maria e Iraí, de 322 km, e investimento de R$ 422 milhões.

A carga movimentada em 2012 pelo porto do Rio Grande foi de 27,7 milhões de toneladas, alta de 10,3% sobre 2011. Para este ano, a estimativa é de um crescimento de 20%. Entre 2011 e 2014, os investimentos previstos no porto totalizam R$ 219,5 milhões, sendo R$ 76,5 milhões do governo estadual. O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, Heitor Muller elogia as obras de duplicação da BR-116, que facilitarão a movimentação de carga entre a capital e Rio Grande, bem como o projeto de construção do eixo ferroviário que desemboca no porto, e a possibilidade de duplicação da BR-101 até a cidade de São José do Norte, cidade situada do outro lado da bacia de evolução, mas tem uma ressalva.

O presidente da Fiergs lembra que o trigo gaúcho poderia ser movimentado por cabotagem. "Precisaria mudar algumas regras. Nosso sistema de navegação tem alguns monopólios, são questões a serem superadas", diz.

As hidrovias gaúchas vão receber investimentos de R$ 17,5 milhões neste ano, menos que os R$ 20 milhões de 2012 e do previsto para 2014 (R$ 21 milhões). Somado a convênios com o governo federal, o total chegará a R$ 114 milhões na atual administração. Os recursos serão aplicados na construção de terminal de passageiros em Porto Alegre e sinalização da Lagoa dos Patos; transporte de barca entre Porto Alegre e Guaíba e a revitalização do Cais Mauá.

O Estado possui 740 km de vias fluviais navegáveis subutilizadas. Para que passe a ser uma estrada para cargas falta a oferta de linhas de navegação da iniciativa privada e demanda dos proprietários de cargas a partir de seus cálculos de custos de logística. A movimentação anual é de 7 milhões de toneladas.

Na aviação, a construção de um novo aeroporto na região metropolitana de Porto Alegre é a alternativa que surge para suprir as atuais restrições de ampliação da pista do Salgado Filho, que se arrasta há mais de cinco anos. O projeto do novo aeroporto prevê duas pistas de 3,2 mil metros cada e 60 metros de largura e capacidade para 40 milhões de passageiros por ano. Caxias também reivindica um aeroporto de porte.