Drones que salvam: conheça usos positivos desse tipo de tecnologia

Aeronaves vêm sendo utilizadas para socorrer pessoas mundo afora; soluções começam a ser implementadas no Brasil, mas ainda esbarram em legislação.

Famosos por proporcionarem atividades recreativas ao ar livre ou belas fotografias aéreas em grande angular, os drones, além de estarem sendo testados para o transporte de cargas e a entrega de pequenas encomendas, também têm se mostrado úteis para salvar vidas.

Na África, por exemplo, equipes médicas tiveram resultados satisfatórios usando drones no transporte de exames de sangue de pessoas que vivem em comunidades afastadas. A solução surgiu após a constatação de que as amostras perderiam a validade caso fossem transportadas por rodovias ou rios em viagens que, muitas vezes, durariam até dois dias. Ao lançarem mão do uso das aeronaves não tripuladas, os pesquisadores perceberam que os exames se mantiveram intactos e que a população poderia ser tratada de forma mais célere e eficaz.

Outro caso de sucesso é a entrega de vacinas em áreas remotas. O Ministério da Saúde da República de Vanuatu, um arquipélago do Pacífico com 38 ilhas de difícil acesso, chegou a lançar concurso público no ano passado para adquirir um sistema de drones exclusivamente para entregar vacinas nessas regiões.

Em outra frente, os drones também prestaram socorro no Nepal, após um terremoto de magnitude 7,8 na escala Richter reduzir a área a escombros em abril de 2015. Além de suprimentos, tais como mantas térmicas e capas de chuva para os quase três milhões de desalojados, os equipamentos utilizaram mapeamento em 3D para avaliar os danos a prédios e sítios históricos a fim de determinar as condições de habitabilidade e auxiliar na reconstrução do local.

Esse tipo de aeronave ainda tem se mostrado eficaz no salvamento de banhistas afogados em oceanos, além da localização de vítimas inconscientes em condições climáticas abaixo de zero e de pessoas perdidas em campos, rios e montanhas.

No ano passado, houve o primeiro caso de salvamento com utilização de drone no Brasil. O episódio ocorreu na represa Guarapiranga, em São Paulo, e o equipamento foi operado pela Guarda Civil Metropolitana, em parceria com o Corpo de Bombeiros, que lançou uma boia para que o banhista flutuasse até a chegada do barco.

Ainda que o uso de drones com essa finalidade seja incipiente no Brasil, algumas empresas nacionais já começam a estudar esse tipo de uso. É o caso da SMX Systems. Seu fundador, Samuel Salomão, trabalhava com telemedicina nos Estados Unidos – uma espécie de atendimento médico virtual –, mas percebia que o ofício se tornava inócuo no momento em que os pacientes precisavam se deslocar para comprarem os medicamentos prescritos.

Foi quando criou a empresa com foco em entrega de medicamentos e resolveu investir no mercado brasileiro. Para isso, passou a trabalhar no desenvolvimento de um sistema computacional que controla diferentes rotas de voos. “A gente determina corredores para os drones voarem. Na prática, não existe uma pessoa controlando o equipamento em si, mas monitorando o voo. Em caso de necessidade de abortar a missão, essa pessoa é responsável por isso”, explica Salomão.

Ele conta que a tecnologia ainda encontra limitações em território nacional devido à legislação, que impõe regras para o uso de drones não recreativos no país. Por conta disso, a empresa opera somente em áreas de grandes indústrias, em plataformas de petróleo e em áreas rurais privadas.

Em centros urbanos, já atuou em um projeto-piloto com a entrega de 33 caixas de medicamentos em São Paulo, além de testes na região Nordeste. Os equipamentos conseguem transportar até 2 kg. Para que possa fazer voos fora de alcance visual com drones multirotores (seis motores no mesmo equipamento), a SMX Systems tenta obter o Certificado de Aeronavegabilidade junto à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

Legislação

Os principais órgãos com atribuições de legislar e fiscalizar o espaço aéreo brasileiro são a Anac e o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo). Para a agência, as aeronaves não tripuladas usadas para fins diferentes da recreação são divididas em categorias que levam em consideração o peso do drone: até 25 kg, entre 25 kg e 150 kg e acima de 150 kg. Quanto maior o peso, mais rígidas são as regras do voo.

Já o Decea observa a altura alcançada por cada equipamento. Para voos de até 30 m, basta uma informação de voo ao departamento. Entre 30 m e 120 m, o órgão precisa autorizar o voo. Acima de 120 metros, o drone só pode voar de forma segregada, para não haver risco de colisão com aviões. Em todos os casos, deve haver uma distância mínima de aeródromos e helipontos.

“Quando o piloto informa o voo, ele torna possível a atuação do Decea em caso de urgência. Se não informar, além de agir de forma irregular, coloca em risco toda a navegação aérea”, adverte o chefe da divisão de coordenação e controle do Decea, coronel Jorge Humberto Vargas Rainho.

Para o órgão, drones que transportam medicamentos e afins se encaixam na mesma categoria de voos para transporte de cargas. Portanto, são tratados de forma similar e devem seguir as mesmas regras. “É importante que quem esteja operando um drone tenha conhecimento técnico e consciência da segurança operacional do voo. O equipamento está no espaço aéreo, logo, o piloto tem que prever os danos de uma atitude imprudente, sobretudo em operações fora de alcance visual”, observa Fábio Campos, piloto e diretor-executivo para a América Central e do Sul da Embry-Riddle Aeronautical University.

Fonte: Agência CNT de Notícias – 13/03/2019