Carga aérea atrai recursos, apesar da crise

 

Carga aérea atrai recursos, apesar da crise

Quinta-feira, 19 de Março de 2015

 

A retração da economia brasileira este ano deve reduzir o transporte aéreo de cargas no Brasil pelo segundo ano seguido, mas a demanda reprimida por logística ancorada nesse modal justifica investimentos neste momento, apontam executivos do setor.

 

"Há uma demanda reprimida por transporte aéreo de cargas porque não há serviços disponíveis de logística integrada a esse modal", afirma o ex-vice presidente e ainda acionista minoritário da Azul, Gerald Blake Lee, presidente da Modern Logistics, criada ano passado por investidores e pela gestora de recursos DXA Investments.

 

O modal aéreo transporta 0,03% da carga movimentada no Brasil, enquanto nos Estados Unidos os aviões respondem por 0,5%. "No limite, podemos multiplicar por dez nosso mercado", diz Lee, sobre o investimento inicial feito pela Modern, de R$ 75 milhões. "Vamos criar uma rede de logística integrada por modal aéreo, como fez a Azul com o transporte de passageiros". De fato, a Azul ajudou a aumentar o volume de brasileiros usando avião, abrindo rotas que não existiam no mercado.

 

Segundo a Anac, os aviões transportaram 63% dos brasileiros que viajaram trajetos interestaduais superiores a 75 quilômetros em 2014. Já os ônibus atenderam 37% da demanda. Em 2004, o quadro era o oposto – o modal rodoviário tinha 69% da demanda; o aéreo, 31%.

 

A Modern Logistics começa este ano a operar cinco centros de distribuição e recebe três aviões. Até 2020, a companhia quer somar 19 centros de distribuição no país e uma frota de 36 aeronaves – metade de Boeing 737-400 e metade de ATR.

 

O vice-presidente da Modern, Adalberto Febeliano, dá exemplos de mercados inexistentes hoje para a logística aérea, mas que podem ser criados.

 

Ele cita fabricantes de medicamentos que têm prazo de validade curtíssimo, como os usados em quimioterapia, que não conseguem colocar seus produtos em cidades secundárias que já dispõem de aeroportos, mas não contam com malha aérea cargueira.

 

Ou TVs fabricadas em Manaus, que viajam a São Paulo para, só depois, seguir até Recife por via rodoviária. "Não fará sentido perder 30 dias de venda com o produto na estrada se houver uma malha aérea para atender a esse cliente", disse Febeliano.

 

A Modern Logistics admite que se perder a aposta na criação de nova demanda pode sofrer para conquistar clientes na atual conjuntura econômica, cuja expectativa para o PIB brasileiro este ano é de uma retração de 0,78%. Foi por causa da economia estagnada em 2014 que a carga doméstica transportada no Brasil teve retração de 4,3% em relação a 2013, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) – pior desempenho desde 2010.

 

"Ficaremos felizes se o mercado deste ano ao menos repetir os volumes de 2014", diz o presidente da GRU Airport, concessionária privada do aeroporto de Guarulhos, Antonio Miguel Marques, detentor de 33% do mercado aéreo de cargas.

 

"Pode ser que na crise as empresas deem menor importância a prazos e aceitem pagar mais para transportar via rodoviária", alerta o presidente da Associação Brasileira do Operadores Logísticos (Abol), Cesar Meireles, que responde por uma entidade que fatura R$ 44 bilhões por ano.

 

Segundo a Abol, a logística representa de 11,6% a 12,5% dos custos no Brasil, enquanto nos Estados Unidos essa parte da cadeia consome de 8,6% a 9,2% das despesas na cadeia de produção.

 

Mas as líderes TAM Cargo, dona de 57% do transporte aéreo de carga, e o GRU Airport, estão investindo em infraestrutura. Segundo ambas, porque as empresas que precisam de logística vão trocar caminhões por aviões para ganhar eficiência, segurar despesas e defender margens.

 

"Queremos estar prontos para atender a demanda quando estiver mais forte", disse o diretor geral da TAM Cargo, Luis Quintiliano. A empresa está investindo R$ 96 milhões no biênio 2015/2016 na rede de 52 terminas de carga do grupo Latam no Brasil.

 

A Latam está ampliando e modernizando 19 armazéns e construindo outros quatro terminais este ano no Brasil, o maior deles em São Paulo, no aeroporto de Guarulhos. "Uma coisa alimenta a outra", diz Quintiliano, da TAM Cargo. "Com investimento, ganhamos escala e eficiência, que trazem mais clientes".

 

"Além da TAM, Gol e Avianca também investiram em terminais de carga aqui", diz o presidente do GRU Airport.

 

"Vamos crescer mais que o mercado", diz Marques, da GRU Airport, que gastou R$ 45 milhões na área própria de carga desde 2012 para ganhar uma disputa com o aeroporto Viracopos, de Campinas, que também gastou, R$ 60 milhões, nesse setor em três anos.