Caos nos portos não tem prazo para acabar

O cenário de caos verificado no Porto de Santos nas últimas semanas não tem uma solução de curto prazo. Para eliminar os gargalos, os governos federal e estadual precisam trabalhar em conjunto na elaboração de um grande projeto de ampliação das vias de acesso terrestre. Caso contrário, filas como as que têm se formado na Rodovia Cônego Domênico Rangoni apenas irão piorar com a construção de novos terminais e aumento da movimentação no porto.
 
"As vias de acesso precisam ser revistas em ambas as margens (esquerda, no Guarujá, e direita, em Santos). Não adianta fazer uma dragagem de aprofundamento para atender navios maiores se os acessos de chegada ao porto estiverem estrangulados", avalia o diretor de desenvolvimento comercial da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Carlos Kopittke. Segundo ele, o governo estadual tem estudado algumas alternativas de acesso, como a construção de viadutos, trevos e novas faixas de rolamento.
 
Mas esse tipo de iniciativa demora tempo para dar resultado por causa dos atrasos nas obras. Na avaliação de especialistas, enquanto os grandes investimentos não saem do papel, é preciso tomar medidas paliativas que consigam, ao menos, amenizar a situação da atual safra.
Uma das alternativas seria criar um sistema mais eficiente para recebimento da carga, a exemplo do que foi adotado em Paranaguá, destaca o diretor da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sergio Mendes.
 
Ele lembra que até bem pouco tempo era o porto paranaense que sofria com as enormes filas nas rodovias de acesso. Hoje o problema está bem controlado. Por isso, o Ministério dos Transportes quer verificar o sistema de Paranaguá para ver se ele se adequa ao Porto de Santos. Kopittke argumenta, porém, que a Codesp já está elaborando um sistema de gestão de cargas. Mas falta concluir 30% dos trabalhos.
 
Outra iniciativa que seria bem-vinda é o aumento da produtividade das ferrovias para atender um volume maior de cargas. Em Santos, a participação do transporte sobre trilhos recuou de 2011 para 2012, de 21% para 20% (incluindo todas as cargas).
 
Falta fiscal. Em outros portos, medidas paliativas também podem ajudar no escoamento da safra atual. No terminal de Tubarão, no Espírito Santo, há apenas um fiscal para emitir todos os certificados, conta Mendes, da Anec. O problema é que, como a exportação de milho também é recorde neste ano, o volume de trabalho aumentou. "Um navio que carrega milho exige 5 a 6 vezes mais certificados que outros grãos."
 
Em Itacoatiara, um dos portos que mais crescem em movimentação de grãos, nem fiscal tem. O único profissional que opera no porto vem "emprestado" de Manaus, numa viagem que demora cerca de seis horas. "Enquanto isso, os navios ficam parados esperando a documentação e cobram US$ 30 mil por dia."