Caminhões sobrecarregados usam notas falsas para driblar fiscalização

Alguns veículos que deveriam levar no máximo 54 toneladas carregam até 80 toneladas. Consequência mais evidente da irregularidade é o asfalto em péssimas condições nas estradas.
 
Flagrantes de imprudência nas rodovias do país. Caminhões circulam com excesso de peso e usam notas fiscais falsas para driblar a fiscalização. Na BR-381, em Belo Horizonte, bastaram 30 minutos de fiscalização e três caminhões foram parados por excesso de peso. Um motorista culpou a empresa.
 
“Lá não tem balança onde carrega”, disse.
 
Mas a nota fiscal trazia o peso da carga – acima do permitido. Em todo o país, há apenas 73 balanças operadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit). Já a Polícia Rodoviária verifica a documentação. Betoneiras de uma mesma empresa foram flagradas usando notas fiscais idênticas. A polícia desconfiou de fraude. O motorista acabou entregando a nota verdadeira, com peso além do permitido. “Cinco toneladas a mais”, revelou um policial.
 
A consequência mais evidente do excesso de carga dos caminhões é muito comum nas estradas mais movimentadas: asfalto em péssimas condições. Dá para ver que a faixa onde os caminhões circulam é bem pior. “Tem muito buraco e desnível”, aponta uma motorista.

 
O encarregado de eletricista Márcio Martins Soares viu na prática o peso de um caminhão na estrada. O carro que ele dirigia foi destruído por uma carreta. “Só Deus. Foi meu presente de Natal”, comemorou.
 
O carreteiro Lincon José França disse que foi surpreendido pelo trânsito lento. “Consegui frear, mas não consegui parar em cima. Ele foi ralando e bateu. É muito difícil segurar o caminhão carregado”, explicou.
 
Imagine se estivesse com excesso de peso. Em Bauru, no centro-oeste paulista, sete caminhões canavieiros se envolveram em acidentes nas rodovias da região de janeiro a agosto deste ano. O risco de batidas também aumenta com a queda de cana na estrada.
 
“Quando cai, o motorista pode tentar desviar e ocasionar um acidente”, conta um motorista.
 
Alguns caminhões que deveriam levar no máximo 54 toneladas carregam até 80 toneladas.
 
“Tem que aproveitar a viagem porque ganhamos por tonelada também”, revela um caminhoneiro.
 
A polícia alerta os viajantes para evitarem os caminhões. “Ao perceber que um veículo de carga está se aproximando muito rapidamente, principalmente em declive, onde esses veículos tendem a desenvolver velocidades maiores devido à dificuldade para frenagem, se for viável, vá para o acostamento e facilite a ultrapassagem para que você não se envolva em um acidente de trânsito”, orienta o inspetor da Polícia Rodoviária Federal Adilson Sousa.
 
Segundo o Dnit, um novo modelo de fiscalização está em estudo e deve ficar pronto até janeiro do ano que vem.