Brasil poderia tornar-se exportador de tecnologia

A estratégia de implantar multinacionais brasileiras no exterior foi parcialmente frustrada pela crise econômica que o mundo atravessa. Mas os investimentos brasileiros no exterior, no ano passado, somaram US$ 192,9 bilhões. Atualmente há uma redução no ritmo desses investimentos – segundo o Banco Central, foram de US$ 18,9 bilhões nos nove primeiros meses de 2011 e caíram para US$ 10 bilhões no mesmo período deste ano.
 
Se a expansão desses investimentos brasileiros foi na produção de bens metalomecânicos, levando em conta que o Brasil pode fornecer a matéria-prima necessária, este hoje é o setor que mais se retrai nos países desenvolvidos. De fato, enquanto os investimentos na agropecuária e na mineração estão crescendo, assim como nos serviços, os investimentos na indústria estão recuando – recuo que se verifica essencialmente pela redução dos empréstimos intercompanhias.
 
No ano passado, 3,6% desses investimentos brasileiros se destinaram à agricultura, pecuária e mineração; 33,5%, à indústria; e 62,9%, aos serviços. Nos nove primeiros meses deste ano, a participação da agropecuária e da mineração está aumentando em razão da extração de petróleo. A participação da indústria aumenta, mas apresenta forte queda em valor absoluto. Os serviços representam mais de 50% dos investimentos, com destaque para as obras na infraestrutura e construção civil, porém muito abaixo dos serviços financeiros.
 
Os investimentos brasileiros no exterior mostram que o Brasil não é um país exportador de inovação. Seguramente, faria sentido que exportasse sua tecnologia de produção agrícola, difundindo, por exemplo, na África os trabalhos desenvolvidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que permitiram obter uma significativa revolução na produção agropecuária. E, certamente, nossa indústria poderia desenvolver novas técnicas de produção de peças para automóveis, para um mercado maior que o do Brasil.
 
A importância dos investimentos na construção da infraestrutura deveria ser ampliada, já que o Brasil tem grande experiência neste setor, o que poderia abrir uma janela para o uso, no exterior, de equipamentos já bastante desenvolvidos entre nós, além de impulsionar a contratação de técnicos brasileiros para participar dos investimentos lá fora.
 
Não se observa ainda um retorno significativo desses investimentos, mas pouco a pouco eles deverão ser ampliados, ajudando a reduzir o atual déficit das transações correntes do balanço de pagamentos.