Apesar de entraves, cabotagem cresceu 23%

Mesmo com os diversos entraves burocráticos, tarifários e estruturais, a cabotagem (movimentação de cargas entre portos do mesmo país) surge como modal alternativo no Brasil.

Empresas como a Wilson Sons e a Aliança Navegação e Logística, duas das maiores operadoras logísticas do País, por exemplo, investiram juntas, no último ano, R$ 630 milhões nesse tipo de transporte. Os investimentos públicos no setor em 2012 totalizaram R$ 357,1 milhões.

No caso da Wilson Sons, que finalizou no fim de 2012 as obras do Terminal de Contêineres (Tecon) de Salvador, o investimento foi de R$ 180 milhões, entre ampliação de espaço, dragagem do cais, aquisição de novos equipamentos e modernização da infraestrutura do terminal. "Hoje a cabotagem não movimenta mais por falta de capacidade, mas as empresas estão fazendo investimentos pesados nesse modal", afirmou ao DCI o CEO do Tecon de Salvador, Demir Lourenço Júnior.

Já a Aliança Navegação e Logística recebeu no início deste ano o primeiro de uma série de quatro navios idênticos que serão empregados em seu serviço de cabotagem no Brasil. O porta-contêineres "Sebastião Caboto", com uma capacidade nominal de 3.800 TEUs e 500 tomadas para contêineres refrigerados, chegou ao Brasil para iniciar o processo de importação em meados de fevereiro. Os outros três navios serão incorporados à frota da empresa no decorrer de 2013, totalizando um investimento de R$ 450 milhões no serviço.

Os investimentos acontecem porque, apesar de diversos entraves apontados por especialistas, o transporte de cargas por cabotagem cresceu 23% no País entre 2006 e 2012, de acordo com a Pesquisa CNT de Transporte Aquaviário – Cabotagem 2013, divulgada na última quarta-feira pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT).

No ano passado, foram movimentadas 201 milhões de toneladas por toda a costa brasileira, volume 3,9% superior a 2011. Entre os principais produtos transportados destacam-se os combustíveis e os óleos minerais, com 77,2% de participação, a bauxita, com 10,1% e os contêineres, 5,1%.

Entraves
Mesmo com uma costa marítima de 7.400 km e um elevado potencial de utilização, diversos fatores restringem o crescimento da navegação de cabotagem no Brasil . A infraestrutura portuária deficiente é considerada um problema muito grave para 79,3% dos entrevistados. Na sequência, estão a deficiência dos acessos terrestres aos portos (63%) e a ausência de manutenção dos canais de acesso e dos berços (63%).

Também entre os obstáculos apontados por empresários e especialistas estão a carência de linhas regulares (52,2%) e a baixa oferta de navios, apontada por 55,4% dos entrevistados pela pesquisa. "Hoje você é obrigado a construir navios aqui no Brasil, a custos três vezes maiores do que o obtido no exterior. No caso das ferrovias, é possível comprar locomotivas usadas no exterior, por exemplo, mas no caso dos navios, não", explicou o presidente da Macrologística, consultoria especializada em transporte de cargas, Renato Pavan.

Além disso, o excesso de burocracia também foi um problema lembrado por 53% dos entrevistados na pesquisa. E as altas tarifas no processo de transporte de cargas por cabotagem também foram citadas por 56,5%.

"A cabotagem está sujeita institucionalmente ao mesmo tipo de documento a que está sujeita a navegação transoceânica, às vezes, os navios demoram de um a dois dias para ter os 190 documentos que são exigidos para entrar e sair do porto", disse Pavan.

Para tentar solucionar alguns dos problemas citados, a Wilson Sons explica que tem oferecido alternativas aos clientes, como o agendamento da atracagem de navios, por exemplo. "Em Salvador estamos com tempo de espera zero para cabotagem. O navio chega, atraca e descarrega", explicou Lourenço Júnior.

Custo-benefício
Todos os problemas relatados pela pesquisa refletem, principalmente no tempo de espera pelas mercadorias. Segundo Pavan, com a burocracia, a falta de navios e a má infraestrutura portuária, a demora no transporte de cargas por cabotagem é muito grande. Uma carga que sai de Manaus (AM), por exemplo, demora, em média, 15 dias para chegar a São Paulo (SP) de navio, enquanto se for transportada de caminhão, demora cerca de 4 dias.

"É o tipo de transporte que acaba valendo a pena apenas para empresas que não têm pressa no transporte e que têm fábricas próximas ao portos, eliminando os gastos para chegar ao terminal", ressaltou.

Já o CEO do Tecon Salvador da Wilson Sons, defende o uso do modal pelo barateamento dos custos, principalmente com o seguro. "As rodovias brasileiras têm situação precária e não são seguras. Os roubos de carga são muito recorrentes. O transporte por cabotagem pode reduzir o custo com o seguro da mercadoria em até 90%", disse.