Ação educativa e nova lei diminuem os acidentes

O trânsito menos violento nas estradas no feriado da Proclamação da República reflete a realidade de rodovias e de cidades brasileiras. O número de acidentes e de vítimas fatais ainda é alto, mas vem caindo com a ajuda de leis e ações preventivas e educativas de governos, ONGs e iniciativa privada. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) comparou os resultados com os da Semana Santa, uma vez que em 2012 não houve operação nacional no dia 15. Foram registrados 2.269 acidentes no último feriado, 12% menos que na Semana Santa, com 101 mortos, queda de 21%, e 1.278 feridos recuo de 20%.

Reorganização da fiscalização e a Lei Seca são os fatores que mais contribuem para a menor violência nas estradas, aponta o chefe da divisão operacional da PRF, Stenio Pires. A fiscalização foi reorganizada depois que um levantamento da PRF revelou que as colisões frontais provocadas por ultrapassagens proibidas e forçadas respondem por 32% das mortes, embora representem apenas 3% do total de acidentes. "A pesquisa serviu para intensificar a fiscalização nos locais onde é mais frequente esse tipo de colisão", relata.

O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), do Ministério das Cidades, também aponta a Lei Seca como principal responsável pela redução de acidentes. A indicação é com base no 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad). segundo ele, o número de motoristas que afirmam ter dirigido após o consumo de álcool recuou 21% entre 2006 e 2012.

A obrigatoriedade do uso de cadeirinha pelas crianças é considerada pelo Denatran como outro fator importante no combate à violência no trânsito. Segundo o Sistema de informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, no período de setembro de 2009 a agosto de 2010, os acidentes de trânsito provocaram a morte de 296 crianças de até dez anos. De setembro de 2010, quando a lei entrou em vigor, a agosto de 2011, o número de vítimas fatais nessa faixa etária recuou para 227.

Apesar da queda, os índices de mortalidade infantil no trânsito são altos. Os dados da ONG Criança Segura, de 2011, mostram que 1.793 crianças de até 14 anos perderam a vida nesse tipo de acidente. "Nos últimos anos, no entanto, tem havido uma redução", afirma a coordenadora nacional da ONG, Alessandra Françoia.
O número de hospitalizações dá uma ideia do impacto do uso da cadeirinha na diminuição de feridos. Em 2011 foram feitas 1.255 hospitalizações de crianças de até 14 anos, média de 104 por mês. Neste ano, até agosto, foram registradas 670 internações, média de 80 mensais. As medidas de políticas públicas, ela avalia, são as mais eficazes na prevenção, assim como o uso de ABS e air bags, entre outros equipamentos de segurança.

Entre as ações educativas e preventivas, ela destaca o projeto Vida no Trânsito, uma ação global coordenada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e outras entidades internacionais. A iniciativa, lançada no ano passado, conta com dez países parceiros, entre os quais Rússia, China, México e Brasil.
As capitais brasileiras beneficiadas são Palmas (TO), Curitiba (PR), Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Teresina (PI). A meta do projeto é diminuir até 2020 em 10% a cada ano o índice de vítimas com ferimentos graves e mortes.

Em Belo Horizonte, as ações do projeto Vida no Trânsito se somam a outras iniciativas preventivas adotadas nos últimos anos que já surtiram efeito na redução de acidentes nas ruas e avenidas da cidade, segundo o presidente da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTRANS), Ramon Victor Cesar.
No ano 2000, o trânsito da capital mineira provocou 297 mortes. No ano passado, o número caiu para 181, apesar de a frota de veículos ter dobrado no período, passando de 679 mil para 1,5 milhão de automóveis. A taxa de mortalidade por 10 mil veículos também caiu de 4,37 para 1,20. O uso de radares na fiscalização, além da Lei Seca, ele aponta, é o fator que mais contribuiu para humanizar o trânsito.

Diminuir a violência provocada pelas motos é o maior desafio das autoridades, uma vez que a frota desses veículos cresce de forma vertiginosa em especial em cidades do Nordeste, em que chegam a corresponder a mais de 40% do total dos veículos em circulação.

Para reduzir a incidência de acidentes com motos, faltam no Brasil, aponta Cesar, leis que tornem obrigatórios faróis ligados para melhor visibilidade das motos pelos demais veículos, placas dianteiras para facilitar a captação pelos radares e idade mínima de 12 anos para as crianças transportadas nas motos, além de curso de pilotagem na habilitação.

Motoristas de ônibus e caminhões também são alvos de campanhas, em especial da iniciativa privada, como o Programa Pela Vida nas Estradas, lançado há dois anos pela empresa de logística JSL. Desde então, foram feitos 30 mil atendimentos de cuidados básicos de saúde, além de orientações sobre segurança nas estradas.