Tráfego nas rodovias cresce menos e afeta concessionária

Os balanços dos principais grupos abertos que atuam em concessões de infraestrutura – CCR, OHL Brasil, EcoRodovias e Triunfo – mostram que o fraco desempenho do fluxo de veículos nas rodovias limitou os resultados no segundo trimestre. O movimento nas estradas registrou seu pior momento dentre os últimos quatro trimestres graças à desaceleração da economia e, em alguns casos, praticamente parou de registrar crescimento. Apesar disso, as companhias esperam retomada da expansão nos próximos meses.
 
Segundo o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada (que elabora o índice ABCR, em parceria com a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias), a desaceleração foi causada, principalmente, pelo arrefecimento da atividade industrial, que diminuiu o movimento de caminhões, por exemplo. "Dentre os veículos pesados há uma trajetória de estagnação, influenciado pela produção da indústria [em desaceleração]. A agropecuária também influenciou e no Sul a estiagem afetou o comportamento do tráfego", diz ele. Dentre os veículos leves, como automóveis de passeio, diz Bacciotti, bons níveis de renda e emprego impediram uma queda ainda maior.
 
O tráfego nas rodovias é responsável por gerar praticamente todo o faturamento das empresas do setor, devido à receita oriunda do pedágio. O fluxo de veículos está ligado à robustez de caixa e, por consequência, de diminuição da alavancagem dessas empresas – que usam capital de forma intensa e que, além disso, têm planos de expansão.
 
Dentre as principais companhias especializadas em estradas, o crescimento mais fraco foi registrado pela EcoRodovias. Há um ano, o crescimento do fluxo de veículos era de 12% – no segundo trimestre deste ano, entretanto, foi de praticamente zero: apenas 0,02% (frente ao mesmo período do ano anterior)
 
A desaceleração da atividade econômica fez a companhia cortar investimentos em suas atividades de logística. "A gente está vendo uma desaceleração da economia, portanto estamos 'calibrando' os investimentos em logística", disse Marcelo Guidotti, diretor financeiro e de relações com o investidor da EcoRodovias, durante reunião pública com investidores e analistas. Em estradas, o grupo negou ao Valor que haja postergação de investimentos devido ao tráfego, mas sim graças a "negociações" nos projetos. Somando as duas atividades (logística e administração de rodovias), a companhia cortou R$ 199,5 milhões de investimentos previamente programados para 2012 e adiou esse montante para o ano que vem.
 
Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, os números foram ainda piores: todas as companhias abertas registraram retração de tráfego, chegando a 11% de queda (em relação ao primeiro trimestre de 2012) nas estradas da Triunfo. A companhia registrou prejuízo de R$ 10,3 milhões no segundo trimestre, sendo que no mesmo período do ano passado a perda foi de R$ 333 mil.
 
Estímulos do governo para a economia devem produzir resultados nas estradas nos próximos meses, diz economista
 
Na OHL Brasil, o crescimento do tráfego era de 16% um ano atrás, e no segundo trimestre foi de cerca de 2% (comparação anual).
 
Na CCR, houve lucro superior graças à diversificação: o crescimento da receita foi de apenas 7% nas estradas, enquanto que em outras receitas (como a oriunda de uma linha do metrô de São Paulo), houve 45% de expansão. Na última linha do balanço, o resultado foi 37% superior, para R$ 224,2 milhões.
 
Para a companhia, o pior momento nas estradas já passou. Indicadores recentes sinalizam retomada, segundo os executivos da empresa. "O pior deve ter ocorrido no segundo trimestre. Em número preliminares, observamos que o tráfego entrou numa trajetória ascendente e em função desse cenário macro [mais positivo], a gente talvez seja surpreendido mais à frente", disse Arthur Piotto, diretor financeiro, a analistas e investidores da CCR durante teleconferência. Na EcoRodovias, a expectativa de alta também é confirmada.
 
Para Bacciotti, da Tendências, os estímulos que vem sendo tomados pelo governo para estimular a economia devem produzir resultados nas estradas nos próximos meses. "Haverá atividade industrial mais forte, causada por estímulos do governo como desoneração da folha de pagamento e taxa de juros mais baixas", diz ele. Por outro lado, ainda podem limitar a retomada o cenário externo desfavorável.
 
Já o fluxo de leves deve mostrar acomodação ou leve melhora nos próximos meses, segundo Bacciotti, alinhado com o comportamento do mercado de trabalho.
 
Nem as companhias nem a Tendências divulgam projeções sobre tráfego futuro. No entanto, as empresas em geral costumam reafirmar ao mercado uma média histórica de tráfego, relacionada ao Produto Interno Bruto (PIB). Nas estradas da CCR, por exemplo, o crescimento em rodovias é historicamente uma média de 1,3 vez o PIB. A Tendências prevê crescimento do PIB de 1,6% em 2012.