Governo só deve alterar área de descanso

O Ministério Público do Trabalho não aceitará retrocessos na lei que regulamentou a jornada dos caminhoneiros. Para acabar com a greve, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, decidiu abrir uma mesa de negociação para discutir aperfeiçoamentos na chamada "Lei do Motorista", que, entre outras questões, determinou 11 horas de descanso ininterrupto aos caminhoneiros a cada 24 horas e paradas de 30 minutos a cada 4 horas de direção.
 
O procurador Paulo Douglas Almeida de Moraes, que participou da reunião que deu fim à paralisação da categoria, afirmou que o governo vai acatar apenas modificações na questão que envolve as áreas de descanso nas estradas, que está na mesma lei. "Tivemos uma sinalização clara do Ministério dos Transportes de que a jornada é uma conquista e não está em jogo. Na jornada, não se mexe", disse o procurador. "A própria ata da reunião reconhece isso. A mesa de negociações tem um objetivo delimitado." Fontes do governo afirmam que a reunião, com mais de sete horas de duração, foi tensa, pois já havia suspeita sobre a legitimidade dos líderes da greve, identificados como empresários, e não trabalhadores.
 
Representantes da Casa Civil e do Ministério do Trabalho teriam sido os mais resistentes a acatar os pedidos dos grevistas, que, segundo relatos, tiveram tom de ameaça. A orientação da presidente Dilma Rousseff era que só houvesse negociação se a paralisação fosse suspensa.
 
Segundo o procurador, a intenção dos líderes era apenas rever resoluções da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que diziam respeito a questões operacionais e tributárias. "Foi um movimento de empresários que utilizou o trabalhador e a jornada como cortina de fumaça. O que nos deixou perplexos foi o fato de que o trabalhador foi usado para abrir uma discussão sobre assuntos que não interessam a ele", acusou.
 
O Ministério Público do Trabalho não descarta a possibilidade de abrir uma investigação sobre o Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), presidido por Nélio Botelho, líder dos grevistas.