Cobrança de pedágios em hidrovias pode virar tema de estudo

Com hidrovias de grande extensão, o Brasil poderá estudar a cobrança de pedágios para as embarcações que trafegarem nesses rios, de acordo com o diretor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Pedro Brito. A medida polêmica foi discutida nessa terça-feira (3), durante o II Seminário Brasil – Bélgica Sobre Hidrovias, realizado na sede da Confederação Nacional do Transporte (CNT), em Brasília (DF).
 
Brito deixou claro que o governo federal não pretende adotar o sistema de concessão nos rios brasileiros, mas disse que o país poderá sim estudar a cobrança de pedágios. “O governo não pensa em realizar nenhuma concessão, porque nossas hidrovias são eixos estratégicos. No entanto, podemos estudar um modelo como o argentino. Do ponto de vista econômico, acho justo os usuários pagarem para que hidrovias estejam prontas para navegação”, afirmou.
 
O projeto dos vizinhos argentinos, citado pelo diretor da Antaq, foi apresentado pelo representante da empresa Jan De Nul, Carl Heiremans. A companhia belga especializada em dragagem foi vencedora do processo de licitação pública realizado pelo governo argentino, em 1992. Com o sistema de concessão, ela é responsável pela navegabilidade do Rio Paraná, desde Santa Fé até o Oceano Atlântico.
 
Nessa hidrovia está concentrada 82% da exportação de produtos agrícolas locais, o maior tráfego siderúrgico do país, e atende a todo o movimento de carga e contêineres cuja origem ou destino é Buenos Aires. Lá, o sistema de cobrança é considerado irrisório. “Cobramos um dólar por tonelada transportada. Comparado com o nosso, o valor cobrado no Canal do Panamá ou em Suez é abusivo. No caso do Brasil, poderíamos aplicar isso nos grandes rios, para transporte de soja, minério. Teríamos, por exemplo, 800 milhões de dólares para investir”, acredita Heiremans, referindo–se à quantidade de toneladas transportadas nas hidrovias nacionais.
 
Além do projeto da Jan De Nul, outras cinco companhias belgas trouxeram seus cases e serviços para o fórum brasileiro. O representante do Mobiliteit en Openbare Werken (MOW), Geert Van Cappellen, falou sobre os estudos realizados pelo departamento para integrar a infraestrutura de hidrovias belgas ao sistema europeu de logística e transporte, principalmente as da região de Flandres.
 
Já os membros das empresas STRATEC, Hugues Ducâteau, e Tractebel Engineering, Erik Van Celst, demonstraram as soluções adotadas para os rios Seine-Scheldt e Danúbio, respectivamente. A construção de novas eclusas no canal do Panamá, com a utilização de um sistema de derrocagem a base de explosivos químicos, foi exibida pelo representante da empresa de dragagem Deme, Jeroen Gheysens. E David Monfort, do Escritório de Estudos GREISCH, expôs o projeto das eclusas de Ivoz-Ramet, no Rio Meuse.
 
Encerramento
Durante o encerramento do II Seminário Brasil – Bélgica Sobre Hidrovias, o diretor da Antaq agradeceu ao embaixador belga, Claude Misson, pelo convite de visitar o país europeu. O Brasil deve realizar uma missão em junho, para conhecer in loco as iniciativas das companhias belgas e suas hidrovias. “Espero que este seja o segundo de uma longa série de seminários e que vocês possam ver as obras que fizemos para valorizar as hidrovias. No futuro, espero que nossas empresas sejam ainda mais numerosas no mercado brasileiro”, destacou o embaixador.
 
O superintendente de Navegação Interior da Antaq, Adalberto Tokarski, e o gerente de Outorga e Afretamento da Superintendência de Navegação Interior, Walneon de Oliveira, também compuseram a mesa de encerramento do evento.
 
4/4/2012